Heterologias

quarta-feira, abril 28, 2010

 

As agências de ratas


Hoje, a minha Justina está de rastos. Eu bem a tinha avisado que aquilo não ficava por ali, que a Dona Ermelinda tinha lá escarrapachado, pra toda a gente ver, um outlook negativo. Mas a minha Justina é toda reinação e é uma miúda bem formada e achou que se pagasse umas bejecas à Ermelinda dos jornais, a que vende lotarias no quiosque, ela começava a ver mais os pontos fortes do negócio e menos os remendos na canalização. Qual o quê! Hoje o pessoal que vinha do quiosque da Ermelinda era só que as meninas da Justina eram tão porcas como as universitárias gregas do Erasmo que fazem uns biscates prá Antonieta zarolha. Ainda pra mais, isto tudo no fim do mês, quando o pessoal vem aqui largar o guito. Estava eu com o Rebelo das obras, a engraxar-lhe o Benfica, que sim, que era uma fartura e que antes cá pra Lisboa que prós facciosos dos tripeiros (que a gente, quando é empresário, diz o que é preciso pra cativar o cliente) e que se fazia assim uma coisa em grande, já este fim-de-semana que vem, pra comemorar o europeu de salão - e os matraquilhos no Chico - mas, vai o Rebelo, que não, que não queria investir nisso, que, se calhar, não, que ainda ia ver, que os rapazes andavam cansados com as obras pró Papa, que o Terreiro do Paço tinha de estar acabado em menos de quinze dias, que o Braga ainda podia dar chatices... E eu a cheirar o ranço daquela merda toda. E digo-lhe assim: punhamos aí as meninas da Justina a noite toda a girarem umas mines, uma música daquelas pum-pum-pum toda às bolinhas, dava-se-lhes mais qualquer coisa e as gajas também davam mais qualquer coisa aos rapazes... E o Rebelo que ainda se ia ver. É pá! Disse logo eu ao Silva cauteleiro: anda aqui intriga da Ermelinda - e o gajo logo que sim, que a Ermelinda, depois da Antonieta, era a malhar na Justina, que aquilo era como os tigres da Malásia, pior que o Sandokan, que era no pescoço do mais fraco, despachava um e passava ao outro e que, depois da Justina, ainda ia ser a vez da Pilar, a espanhola da Pensão Vigo, que eram as leis do mercado e que um tipo não andava aqui pra ver passar combóios e ele até achava que a Ermelinda estava feita com o tipo da Remax, aquele com ar de paneleiro e gravata à BCP, e o que eles queriam era fechar aquilo tudo para depois se fazerem uns condomínios à maneira prós granfinos, daqueles com guardas e tudo, como nas novelas brasileiras. Aí é que está o quiproquó, ó Silva - a merda do busiles, o dedo na ferida. Eu bem avisei a Justina do outlook negativo, mas ela não, que não, que ia a falas com a Ermelinda e ia correr tudo bem. Até se pôs em cima do balcão e, de mine na mão, disse assim como quem vai apresentar um fadista de quem nunca ninguém ouviu falar: caros clientes, que são mais que amigos, são como família. (Houve uma balbúrdia de aplausos e de assobios e de bocas prá geral). E ela, embalada: amigos, vizinhos, gentes do meu coração, para que não haja dúvidas e ninguém fique a matutar, digo-vos aqui, d'alma escancarada e coração nas mãos, que a Albertina, apesar de não ter sido ela a pegar os chatos ao Manel da Famel, já foi posta na rua, porque ia lá pra trás mexer nos tomates do Carlos servente, que é um porco e só lhe pagava o que queria, quando queria e nós nunca víamos nada. A malta toda a aplaudir e eu mesmo ali a ver que aquilo já não era suficiente para acalmar a Ermelinda: era pouca coisa e tarde de mais. Por isso, quando, hoje de manhãzinha, me vem a Justina toda chorosa da padaria, a dizer que aquela puta da Ermelinda a tinha descido dois lugares no ranking e que ainda lhe tinha dito ó Sôdona Justina não fique assim, que ainda está muito bem colocada pra lhe mandar pra lá uns marinheiros turcos e uns rapazes ucranianos que estão ali a pôr um pládur no café do Senhor Sousa e que ela só não lhe foi às fuças porque, depois, é que nem aos reformados da Recreativa a Ermelinda recomendava o estaminé, quando ela me chegou neste estado, eu só lhe disse, ó Justina, faz-me aqui um broche, pra não ir assim prá casa de banho lavar a tromba. Mas, eu, o que queria, mesmo, dizer-lhe era: olha, filha, põe-te mas é a pau, que o outlook continua negativo e ainda vais pelo mesmo caminho da Antonieta zarolha e olha que vais de carrinho, nem que faças uma remodelação geral ao estaminé, lavabos incluídos e toalhinhas de turco grosso mudadas todos os dias. E a Justina fez-se ao pau, mas foi ao meu, e a Ermelinda não se vai ficar por aqui. Esperem pra ver e escrevam aí na agenda que fui eu quem vos disse - que eu, quando falo não é prá piça, por isso escrevam nas agendas, não ponham os colhões a gravar.

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Comments:
o outlook negativo

ahahahaha
 
Olhámadrinha! Entra e bebe uma mine com a gente.
 
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