"E, pensando melhor, nem é isso o que eu desejo: quero é viver o suficiente (que, pelo modo como as coisas vão, não pode ser muito) para que continue a haver salas escuras, onde as luzes se apaguem e o écran se acenda, até, depois da insignia da Republic, vermos (muitos) as letras brancas do genérico inscreverem-se sobre o plano dum vale selvagem, em vero trucolor."
João Bénard da Costa (1935-2009), Johnny Guitar (1954), folha da Cinemateca para as sessões de 18 e de 19 de Julho de 1985.
(E é tão giro: as letras do genérico não são brancas, são amarelas. Ele era muito antes do video, quanto mais do DVD, o Cinema dele vivia-lhe na cabeça e, como vivia, crescia e autonomizava-se e como era dele já não era só do Ray ou do Ford ou do Hitchcock ou do Rossellini ou do Godard. E, para ele, para o Bénard, que não era tecnocrata, nem positivista, o que é que interessavam esses rigores dos factos: o rigor dele era o do pensamento)
Pois é. Ficava a memória do filme que se via e juntavam-se mitos que nem faziam parte deles.
O Bénard tem uma série de textos em que inventava o que nem vinha nos filmes.
Mas também tem outros onde deu conta do que passava despercebido aos "positivistas". É o caso do Rebecca em que a Mrs de Winter não tem nome- é apenas isso- a segunda Mrs do senhor Winters.
Ele topou e referiu-o de forma certeira.
E tinha um ouvido que faz favor. Conseguia acompanhar os andamentos musicais do Carmen Jones com as imagens.
Faz pena estas pessoas irem-se e não ficar nada que se lhes compare. Nem católicos a saberem da história da Igreja como ele sabia, existem. Beijocas