O tempo, o envelhecimento e a morte. Não é uma história a dois, mas a história da protagonista, a bailarina, irredutivelmente pessoal como um ajuste de contas. Ele, o primeiro namorado, é o Amor e a Juventude - perdidos. É a história de uma aprendizagem. Aprender o tempo, o envelhecimento e a morte. Aprender a vida. A vida é isso tudo e é passageira e frágil e ridícula - é preciso conseguir retirar de lá (construi-la a partir dela e construi-la nela) a felicidade. A bailarina é feliz, descobre ela no fim. Não apesar de tudo, mas feliz apenas - com o amor e a juventude perdidos, o novo namorado impossivelmente o outro, o da juventude, o da Idade de Ouro. Com o fim da carreira e a decadência. É feliz, descobre.
O ballet é efémero como a Vida - efémero e frágil. O namorado perdido é o Amor e a Juventude. O tio é o Tempo. A velha senhora (a avó dele?) é a Morte - di-lo o padre, que com ela joga xadrez. (Com a morte, Ingmar Bergman joga sempre xadrez.) A Vida entre o Tempo, que desespera, corrompe e faz esquecer, e a Morte - que espera.
Como a juventude, o Verão passa, ameaçado, sempre, pelo seu fim. Um Verão de barcos, foguetes e festas nos embarcadouros. E a luz a reflectir-se na água. O primeiro namorado teve a morte como um pressentimento a pairar e nela mergulhará, como esses gregos de Posidonia (a Paestum latina) que se lançam nus no vazio.
Depois do Verão, agarrar o que resta, o possível depois do sublime e da totalidade - como o Inferno partilhado, melhor do que a solidão, numa fala de (tanto quanto me lembro)
A Sede / Törst (1949).
Robert Moskowitz, Diver, 2002, oil on canvas, at Lawrence Markey, New YorkEtiquetas: 1950, Cinema, Cinema Death, Death, Ingmar Bergman, Robert Moskowitz, Sommarlek, Suécia, Verão de Amor (Um)